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Pesquisas apoiadas pela Fapesp vencem o Prêmio Octavio Frias de Oliveira – Notícias de Batatais

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Pesquisas apoiadas pela Fapesp vencem o Prêmio Octavio Frias de Oliveira

A pesquisa que descobriu uma nova variante genética que pode favorecer a formação de câncer de mama e de outros tumores sólidos no pâncreas e nos pulmões foi a vencedora, na categoria Pesquisa Oncológica, da 16ª edição do Prêmio Octavio Frias de Oliveira, nesta terça-feira (12).

“Identificamos uma variante genética nova enquanto estudávamos uma proteína [MST2] conhecida por inibir o crescimento de células tumorais. Por causa de uma falha no processamento genético, o gene produz uma proteína não funcional [MST2Δ7]. Com isso, ao invés de ajudar na interrupção da proliferação descontrolada das células, essa proteína não funcional bloqueia o sinal antiproliferação, ocasionando formas mais agressivas de câncer”, explicou à Agência Fapesp Alexandre Bruni-Cardoso, professor no Departamento de Bioquímica do Instituto de Química da Universidade de São Paulo (IQ-USP).

Ao comparar células normais de glândula mamária e células tumorais do câncer de mama, os pesquisadores observaram que essa proteína tinha um tamanho alterado, sendo menor do que a proteína MST2 nas células normais.

“Num primeiro momento, existe a possibilidade de essa variante ser um biomarcador para a doença. Futuramente, com mais estudos sobre seus mecanismos moleculares, é possível, inclusive, desenvolver um novo tratamento a partir dessa descoberta”, completa o pesquisador. O estudo, que foi publicado na revista Oncogene, teve apoio da Fapesp.

Na categoria Inovação Tecnológica em Oncologia, venceu a equipe de pesquisadores do Hospital de Amor, em Barretos, que aprimorou a técnica de PCR digital para a detecção da bactéria Fusobacterium nucleatum em exames de fezes. A técnica surge como uma forma de melhorar o rastreamento do câncer colorretal, já que a bactéria pode participar do processo de formação de tumores.

Liderado por Cláudio Hashimoto, coordenador do Departamento de Endoscopia do Hospital de Amor, a pesquisa realizada com 300 participantes assintomáticos concluiu que níveis elevados da bactéria estavam associados a lesões avançadas que podem levar ao tumor e também ao próprio câncer colorretal.

“Existe um grande desafio em relação ao rastreamento de câncer colorretal. A colonoscopia é considerada o padrão-ouro de detecção, mas é um exame extremamente invasivo. A ideia é que esse novo método de detecção possa ser utilizado na população em geral, ampliando o rastreamento da doença, que hoje é realizado por colonoscopia e apenas em pessoas com histórico familiar ou risco aumentado da doença”, disse à Agência Fapesp José Guilherme Datorre, pesquisador que representou a equipe na premiação. O estudo, publicado na revista Cancer Prevention Research, foi apoiado pela Fapesp.

Personalidade de Destaque

A terceira categoria da 16ª edição do Prêmio Octavio Frias de Oliveira, Personalidade de Destaque, homenageou a cientista Maria Paula Curado, chefe de Epidemiologia e Estatística em Câncer do Instituto A.C.Camargo Cancer Center e também apoiada pela Fapesp em suas pesquisas.

Curado é referência na área de epidemiologia. Nos anos 1980, enquanto trabalhava como oncologista em um hospital em Goiânia, percebeu a necessidade de notificar e registrar todos os casos de câncer na cidade que, na época, tinha 1 milhão de habitantes. Em 1985, conseguiu apoio da Organização Mundial da Saúde (OMS) para estabelecer o acompanhamento estatístico no município. “Isso foi importante também, pois, dois anos depois, quando ocorreu o acidente radioativo [com césio-137, que deixou quatro mortos e afetou milhares em Goiânia, em 1987] a gente já tinha uma base de dados sobre os cânceres, o que permitiu monitorar seus efeitos”, contou.

No começo dos anos 2000, Curado foi eleita representante da América Latina na Agência Internacional de Pesquisa em Câncer (Iarc, na sigla em inglês), ligada à OMS. A partir de 2006, trabalhou por dez anos em Lyon, na França, como chefe do departamento da OMS responsável pelo registro de câncer no mundo.

“Fui para países da África, Ásia. Fui para a Índia, para o Camboja. Íamos para esses países orientar as pessoas a fazer o registro dos casos de câncer, porque era preciso saber quais eram mais recorrentes e assim poder definir qual tipo de intervenção era mais apropriada”, relembrou a cientista.

Outro trabalho pioneiro da oncologista foi um estudo multicêntrico que investigou diferenças regionais no câncer de cabeça e pescoço entre Goiânia, São Paulo e Curitiba. No estudo, foram recrutados 500 pacientes com o intuito de investigar padrões distintos de exposição a fatores de risco, como o consumo de alimentos ultraprocessados, bebidas alcoólicas e tabagismo.

Também realizou um trabalho colaborativo com centros de pesquisa em São Paulo, Fortaleza e Belém, onde coletou dados epidemiológicos detalhados de mais de 2 mil pessoas sobre epidemiologia e genômica de adenocarcinomas gástricos no Brasil (leia mais em: agencia.fapesp.br/53728).

Ao ser homenageada, Curado destacou a importância de combater as desigualdades regionais no diagnóstico e tratamento do câncer no Brasil. “O envelhecimento da população e a mudança no perfil das doenças exigem estratégias específicas para cada região. No Sul e Sudeste, por exemplo, o câncer já é mais comum que as doenças cardiovasculares, enquanto no Norte e Nordeste ainda predominam tipos preveníveis, como o câncer do colo do útero”, avaliou.

Patrocinado pelo Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp) e pelo jornal Folha de S.Paulo, o prêmio tem por objetivo reconhecer e estimular a produção científica em oncologia no país. Ao todo, 26 estudos foram inscritos na premiação, que contou com um comitê julgador formado por representantes da FAPESP, do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), da Academia Nacional de Medicina (ANM), da Academia Brasileira de Ciências (ABC), da Fundação Oncocentro de São Paulo (Fosp) e do Icesp.

“A cada ano fica mais difícil selecionar os vencedores do prêmio, visto que a qualidade dos trabalhos está aumentando. Isso é um sinal de sucesso do prêmio e da pesquisa em oncologia também”, afirmou Marco Antonio Zago, presidente da Fapesp.

Premiação contou com um comitê julgador formado por representantes da FAPESP, CNPq, ANM, ABC, Fosp e Icesp. Ao todo, 26 estudos foram inscritos (foto: Agnaldo Dias Correia/HC-FM-USP)

O prêmio também está mais difuso, com participantes de diferentes Estados brasileiros e com diferentes abordagens para o tratamento do câncer. “Veja que entre os vencedores deste ano temos uma pesquisadora focada em epidemiologia, saúde pública, educação, comunicação. Também temos a melhoria de uma técnica para ampliar a detecção da doença e uma descoberta genética que está na fronteira do conhecimento. Portanto, o prêmio reflete a realidade da pesquisa oncológica. É preciso um exército de competências”, afirmou Roger Chammas, coordenador do Centro de Investigação Translacional em Oncologia do Instituto do Câncer e presidente da comissão julgadora do prêmio.

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